Seguidores

sábado, 31 de dezembro de 2011

Poetas da Nossa Terra







Jamais haverá ano novo se continuar a copiar os erros dos anos velhos.



********************

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Poetas da Nossa Terra




Poema de Natal de Fernando Pessoa


Natal... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade !
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei !

**********************************

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

BOM NATAL A TODOS




***********************************

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Do Coração...Bom Natal....


LEVE  PARA  O  SEU  BLOG

São os meus Votos de Um Santo Natal
















quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

É Natal é Natal....



**************************************

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Poetas da Nossa Terra



REFLEXO

Olho-te pelo reflexo
Do vidro
E o coração da noite

E o meu desejo de ti
São lágrimas por dentro,
Tão doídas e fundas
Que se não fosse:

  o tempo de viver;
  e a gente em social desencontrado;
  e se tivesse a força;
e a janela ao meu lado
  fosse alta e oportuna,

invadia de amor o teu reflexo
e em estilhaços de vidro
mergulhava em ti.


Ana Luísa Amaral
In Anos 90 e Agora

domingo, 27 de novembro de 2011

Poetas da Nossa Terra



 
No teu peito 
é que o pólen do fogo 
se junta à nascente, 
alastra na sombra. 
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre. 
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio. 
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha

Eugenio de Andrade 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Poetas da Nossa Terra




GAIVOTA





Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.





Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.



Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.

Alexandre O'Neill


Uma Bela Canção de Amália Rodrigues

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Poetas da Nossa Terra




Retrato do Herói


Herói é quem num muro branco inscreve
O fogo da palavra que o liberta:
Sangue do homem novo que diz povo
e morre devagar  de morte certa.

Homem é quem anónimo por leve

lhe ser o nome próprio traz aberta
a alma à fome  fechado o corpo ao breve
instante em que a denúncia fica alerta.

Herói é quem morrendo perfilado

Não é santo  nem mártir  nem soldado
Mas apenas  por último  indefeso.

Homem é quem tombamdo apavorado

dá o sangue ao futuro  e fica ileso
pois lutando apagado  morre aceso. 

Ary dos Santos

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Poetas da Nossa Terra


 "finge tão completamente"
         
                                    
 
         
                  Faz-me falta a tristeza 
                  para o verso: 
                  falta feroz de amante, 
                  ausência provocando dor maior. 
                    
                  Tristeza genuína, original, 
                  a rebentar entranhas e navios 
                  sem mar. 
                  Tristeza redundando em mais 
                  tristeza, desaguando em métrica 
                  de cor. 
                     
                  Recorro-me a jornal, mas é 
                  em vão. A livros russos (largos 
                  e sombrios). 
                  Em provocado rio de depressão, 
                  nem zepellin: balão 
                  a ervas rente. 
                    
                  Um arrastão sonhando-se 
                  navio. 
                    
                  Só se for o que diz o que 
                  deveras sente. 
                  A sério: o Zepellin. 
                  Mas coração: 
                  combóio cuja corda 
                  se partiu. 
  Ana Luiza Amaral

Poetas da Nossa Terra



Deixa a mão
caminhar
perder o alento
até onde se não respira.
Deixa a mão
errar
sobre a cintura
apenas conivente
com nácar da língua.
Só um grito desde o chão
pode fulminá-la.
A morte
não é um segredo
não é em nós um jardim de areia.
De noite
no silêncio baço dos espelhos
um homem
pode trazer a morte pela mão.
Vou ensinar-te como se reconhece
repara
é ainda um rapaz
não acaba de crescer
nos ombros
a luz
desatada
a fulva
lucidez dos flancos.
A boca sobre a boca nevava.

sábado, 5 de novembro de 2011

Poetas da Nossa Terra


Não Cantes o meu nome em pleno dia


Não cantes o meu nome em pleno dia
não movas os seus ásperos motivos
sob a luz dolorosa sob o som
da alegria

Não movas o meu nome sob as tuas
mãos molhadas do choro doutros dias 
não retenhas as sílabas caídas 
do meu nome da tua boca extinta

Não cantes o meu nome a primavera
já o ameaça hoje principia
a vida do meu nome não o cantcs
com a tua alegria



Gastão Cruz
os nomes
Imagem da Linguagem
Assírio & Alvim
1974

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Poetas da Nossa Terra

Fernando Pessoa




FELICIDADE





Volte....pois o video também merece ser visto...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Poetas da Nossa Terra


Natália Correia - Poema II


De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem. 

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Poetas da Nossa Terra





No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada,
Uns por verem rir os outros
E os outros sem ser por nada -
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...


No comboio descendente
Vinham todos à janela,
Uns calados para os outros
E os outros a dar-lhes trela -
No comboio descendente 
Da Cruz Quebrada a Palmela...


 No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E outros nem sim nem não
No comboio descendente
De Palmela a Portimão... 

- Fernando Pessoa 


sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Poetas da Nossa Terra




Músicas

Desculpo-me dos outros com o sono da minha filha.
E deito-me a seu lado, 
a cabeça em partilha de almofada.

Os sons dos outros lá fora em sinfonia
são violinos agudos bem tocados.
Eu é que me desfaço dos sons deles
e me trabalho noutros sons.

Bartók em relação ao resto.

A minha filha adormecida.
Subitamente sonho-a não em desencontro como eu 
das coisas e dos sons, orgulhoso 
e dorido Bartók.

Mas nunca como eles
bem tocada
por violinos certos.



Ana Luísa Amaral
Minha Senhora de Quê
 

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Poetas da Nossa Terra



Praia das Conchas

No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.
Sophia de Mello Breyner Andresen – Obra Poética I

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Poetas da Nossa Terra















Gozo
 
 
Desvia o mar a rota
do calor
e cede a areia ao peso
desta rocha
Que ao corpo grosso
do sol
do meu corpo
abro-lhe baixo a fenda de uma porta
e logo o ventre se curva
e adormece
e logo as mãos se fecham
e encaminham
e logo a boca rasga
e entontece
nos meus flancos
a faca e a frescura
daquilo que se abre e desfalece
enquanto tece o espasmo o seu disfarce
e uso do gozo
a sua melhor parte




M.Teresa Horta


terça-feira, 11 de outubro de 2011

Poetas da Nossa Terra




SO-NETO JORGE, Luiza

A silabar que o poema é estulto 
o amado abre os dentes e eu deslizo; 
sismos,orgasmos tremem-lhe no olhar 
enquanto eu, quase a rimar, exulto. 

Conheço toda a terra só de amar: 
sem nós e sem desvãos, um corpo liso. 
Tenho o mênstruo escondido num reduto 
onde teoricamente chega o mar. 

Nos desertos-íntimos, insuspeitos- 
já caem com a calma as avestruzes 
-ou a distância, com os oásis, finda; 

à medida que nos arcaicos leitos 
se vão molhando vozes e alcatruzes 
ao descerem ao fundo pego, e à vinda. 



Luiza Neto Jorge
O Amor e o Ócio 
Poesia

sábado, 8 de outubro de 2011

Poetas da Nossa Terra


estou escondido na cor amarga do fim da tarde.

estou escondido na cor amarga do
fim da tarde. sou castanho e verde no
campo onde um pássaro
caiu. sinto a terra e orgulho
por ter enlouquecido. produzo o corpo
por dentro e sou igual ao que
vejo. suspiro e levanto vento nas
folhas e frio e eco. peço às nuvens
para crescer. passe o sol por cima
dos meus olhos no momento em que o
outono segue à roda do meu tronco e, assim
que me sinta queimado, leve-me o
sol as cores e reste apenas o odor
intenso e o suave jeito dos ninhos ao
relento


valter hugo mãe de estou escondido na cor amarga do fim da tarde

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Poetas da Nossa Terra





DIETÉTICAS



Todos os dias alimento uma paz pequena:

não é dar-lhe asas de voar,

mas comida verdadeira

 

Poucos sabem das suas preferências:

às vezes um pouco disto,

outras um pouco daquilo,

e a minha paz pequena vai crescendo

e engordando

 

Alimentando-a do que realmente gosta,

de quando em quando receio dispepsia,

que fique obesa e larga:

e urgentes as dietas

 

Para já, a proporção peso-largura

está correcta, mas temo pelo resto:

uma ruptura stibita, ou fome

desmedida que a conduza sozinha

a procurar comida,

tornando-a viciada e vulnerável

 

Muito gorda, sem eficácia nenhuma,

prevejo-a, anti-bulímia,

mas em bruma,

tão sartreanamente

irrecuperável

 
ANA LUÍSA AMARAL, Às Vezes o Paraíso, 

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Poetas da Nossa Terra

 
 
 
 Para Quê Tanta Pressa...
 

O corpo não espera. Não. Por nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sêde, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo…
Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.


 Jorge de Sena 

domingo, 25 de setembro de 2011

Poetas da Nossa Terra




Vinham ao fim do dia,
Talvez chamados pelo brilho
dos dentes, ou das unhas,
ou dos vidros.

Eram de longe.
Do mar traziam
o que é do mar: doçura
e o ardor nos olhos fatigados.

Chegavam, bebiam
a púrpura dos espelhos
e partiam.
Sem declinar o nome 

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Poetas da Nossa Terra



As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões

As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões
E muitas transformam-se em árvores cheias de ninhos - digo,
As mulheres - ainda que as casas apresentem os telhados inclinados
Ao peso dos pássaros que se abrigam.

É à janela dos filhos que as mulheres respiram

Sentadas nos degraus olhando para eles e muitas
Transformam-se em escadas

Muitas mulheres transformam-se em paisagens

Em árvores cheias de crianças trepando que se penduram
Nos ramos - no pescoço das mães - ainda que as árvores irradiem
Cheias de rebentos

As mulheres aspiram para dentro

E geram continuamente. Transformam-se em pomares.
Elas arrumam a casa
Elas põem a mesa
Ao redor do coração.

Daniel Faria

de Homens Que São Como Lugares Mal Situados (1998)


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Poetas da Nossa Terra




As pessoas sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas


O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra


"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."


Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito


Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.



Sophia de Mello Breyner Andresen
(Livro sexto)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Poetas da Nossa Terra



 :  o órgão do mar 

  
por vezes
quando caminho sobre as pedras da beira rio
que se rasgam sob os passos
interrogo a tarde e os fantasmas
que se escapam destas fendas.


ao som de uma melodia evanescente
abro as portas da alma
e, de par em par,
todos os portões do corpo.


sem amarras, à beira de Ser
acalmo então a passada


leio teresa
o poema da recusa e pressinto
que se não as polpas
então os verbos crus nus como
os meus pés descalços, sempre descalços, sabem de ti
da erva
da cidade
do mar que é nosso
que unindo afasta as marés e as margens,


da falésia


de todas as coisas visíveis
de todas as se opõem
simétricas e complementares


das que falam
das que calam
das que gemem de prazer
das que gritam gaivotas soltas no silêncio de mulher,


é então que, em emudecimento contemplativo, oiço a lição de nietzsche
e, experimentada, solto o elástico que me prende


no vazio em queda livre, convicta
deixo-me pender, árvore de braços abertos
sobre o mar …


Teresa Horta
Poema inédito

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Poetas da Nossa Terra





SOMOS  LIVRES







José Fanha

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Poetas da Nossa Terra


Esta manhã encontrei o teu nome


Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida

foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.

Maria do Rosário Pedreira

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Poetas da Nossa Terra



A noite chega com todos os seus rebanhos


Uma cidade amadurece nas vertentes do crepúsculo
Há um íman que nos atrai para o interior da montanha.
Os navios deslizam nos estuários do vento.
Alguma coisa ascende de uma região negra.
Alguém escreve sobre os espelhos da sombra.
A passageira da noite vacila como um ser silencioso.
O último pássaro calou-se.As estrelas acenderam-se.
As ondas adormeceram com as cores e as imagens.
As portas subterrâneas têm perfumes silvestres.
Que sedosa e fluida é a água desta noite!
Dir-se-ia que as pedras entendem os meus passos.
Alguém me habita como uma árvore ou um planeta.
Estou perto e estou longe no coração do mundo.



de A Rosa Esquerda(1991)

Ramos Rosa

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Poetas da Nossa Terra



POEMA SOBRE A RECUSA


Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.

In "Vozes e Olhares Femininos"

 Mª Tereza Horta

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Poetas da Nossa Terra


:  A fotografia 
A fotografia que te mostra assim por inteiro
É a preto, branco e cinzento e olha para mim.
É carta que se diz de ti, é imagem que vem por ti
E olho-a com cores do sorriso e do coração
Como se a vontade fosse quem manda, sem mais regra.

A fotografia que te mostra assim, tem cheiro
De mar e de verde e de perfumes que são assim...
Tão únicos... especiais, como sei que nunca vi
Em toda a minha forma vivida de certeza e razão...
Há sabor na expressão que vejo e me alegra.

A fotografia que te mostra assim fala comigo,
Cara a cara, e lembra-me que me castigo
Por ter que castrar o querer estar contigo.

A fotografia que te mostra assim já é minha...
Hei-de gastá-la com olhos que pensava que não tinha,
Hei-de cheirá-la com sentido que na alma se aninha.

Valdevinoxis

domingo, 21 de agosto de 2011

Poetas da Nossa Terra

Monumento em Santa Cruz



Um poema de João de Barros

CAMINHO

a Ferreira de Castro


Dizem aqueles tristes que julgaram
Ter vivido num dia toda a vida:
-- É tudo engano e a alma aborrecida
Morre dos ideais que alucinaram...

E aos outros gritam: -- Onde, esta subida
Atrás das ilusões que vos chamaram?
-- Loucos, parai... Só esses que pararam
Chegaram à verdade apetecida!

Mas nós -- nem os ouvimos, nós, os fortes
Que através de mil prantos e mil mortes,
Sabemos que a verdade ou a ilusão,

-- Ideia altiva ou corpo de mulher --
Nunca podem fugir a quem tiver
Beijos de amor e garras de ambição!


Humilde Plenitude, Lisboa, Livros do Brasil, 1951

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Poetas da Nossa Terra



Antes que seja tarde amigo

Antes que Seja Tarde Amigo,
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas
como as águas de um lago adormecido,
acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo,
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe
apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha,
abre os braços e luta!
Amigo,
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.


Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"