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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Poetas da Nossa Terra








Joaquim Pessoa

Ícaro

A minha Dor, vesti-a de brocado,
Fi-la cantar um choro em melopeia,
Ergui-lhe um trono de oiro imaculado,
Ajoelhei de mãos postas e adorei-a.

Por longo tempo, assim fiquei prostrado,
Moendo os joelhos sobre lodo e areia.
E as multidões desceram do povoado,
Que a minha dor cantava de sereia...

Depois, ruflaram alto asas de agoiro!
Um silêncio gelou em derredor...
E eu levantei a face, a tremer todo:

Jesus! ruíra em cinza o trono de oiro!
E, misérrima e nua, a minha Dor
Ajoelhara a meu lado sobre o lodo. 

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domingo, 22 de julho de 2012

Poetas da Nossa Terra





Antes que Seja Tarde

Antes que Seja Tarde Amigo,
  tu que choras
 uma angústia qualquer
  e falas de coisas mansas
 como o luar
  e paradas como as águas
 de um lago adormecido, acorda!
  Deixa de vez as margens
 do regato solitário
  onde te miras
  como se fosses a tua namorada. 
  Abandona o jardim sem flores
  desse país inventado 
  onde tu és o único habitante.
  Deixa os desejos sem rumo
  de barco ao deus-dará
  e esse ar de renúncia
  às coisas do mundo.
  Acorda, amigo,
  liberta-te dessa paz podre
 de milagre que existe
  apenas na tua imaginação.
  Abre os olhos e olha,
  abre os braços e luta!
  Amigo,
  antes da morte vir
  nasce de vez para a vida.

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"
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