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sábado, 17 de abril de 2010

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Poetas da Nossa Terra

Joaquim Pessoa



DE BRUÇOS ME DEBRUÇO MAIS AINDA


De bruços me debruço mais ainda

até sentir os olhos tumefactos

para saber até que ponto é linda

a intrigante cor desses sapatos


que às tuas pernas dão um brilho tal

e uma leveza tal ao teu andar,

que eu penso (embora aches anormal)

que nunca te devias descalçar.


Também porquê, se já não há verdura

nem tu és Leonor para correr

descalça, no poema, à aventura?


O mais difícil, hoje, é antever

quem é que vai à fonte em literatura

e que água dá aos versos a beber.


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terça-feira, 13 de abril de 2010

Poetas da Nossa Terra


Fim do Coito


Resposta a um Deputado do CDS na Assembleia da República


Já que o coito - diz Morgado -

tem como fim cristalino,

preciso e imaculado

fazer menina ou menino;

de cada vez que o varão

sexual petisco manduca,

temos na procriação

prova de que houve truca-truca.

Sendo pai só de um rebento,

lógica é a conclusão

de que o viril instrumento

só usou - parca ração! -

uma vez. E se a função

faz o órgão - diz o ditado -

consumada essa excepção,

ficou capado o Morgado.

Natália Correia

domingo, 11 de abril de 2010

Poetas da nossa Terra



Quem dorme a noite comigo

De um Fado de Amália


Quem dorme à noite comigo?
É meu segredo, é meu segredo!
Mas se insistirem, desdigo.
O medo mora comigo,
Mas só o medo, mas só o medo!

E cedo, porque me embala
Num vaivém de solidão,
É com silêncio que fala,
Com voz de móvel que estala
E nos perturba a razão.

Que farei quando, deitado,
Fitando o espaço vazio,
Grita no espaço fitado
Que está dormindo a meu lado,
Lázaro e frio?

Gritar? Quem pode salvar-me
Do que está dentro de mim?
Gostava até de matar-me.
Mas eu sei que ele há-de esperar-me
Ao pé da ponte do fim.


ALAIN OULMAN