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sábado, 8 de junho de 2013

Poetas da Nossa Terra





                             Canção


Venham ver a maravilha
Do seu corpo juvenil!
 
O sol encharca-o de luz,
E o mar, de rojo, tem rasgos
De luxúria provocante.
 
Avanço. Procuro olhá-lho
Mais de perto... A luz é tanta
Que tudo em volta cintila
Num clarão largo e difuso... 

Anda nu - saltando e indo,
E sobre a areia da praia
Parece um astro fulgindo.

Procuro olhá-lo; - e os seus olhos 
Amedrontados, recusam
Fixar os meus... -  Entristeço... 

Mas nesse olhar fugidio -
Pude ver a eternidade
Do beijo que eu não mereço...

António Botto

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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Poetas da Nossa Terra



A forca

Já que adorar-me dizes que não podes,
Imperatriz serena, alva e discreta,
Ai, como no teu colo há muita seta
E o teu peito é peito dum Herodes.

Eu antes que encaneçam meus bigodes
Ao meu mister de ama-te hei de pôr meta,
O coração mo diz – feroz profeta,
Que anões faz dos colossos lá de Rodes.

E a vida depurada no cadinho
Das eróticas dores do alvoroço,
Acabará na forca, num azinho,

Mas o que há-de apertar o meu pescoço
Em lugar de ser corda de bom linho
Será do teu cabelo um menos grosso.


Cesário Verde