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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Viagens na Nossa Terra

VALE DE SANTARÉM



Almeida Garret

O Vale de Santarém é um destes lugares privilegiados pela natureza,
sítios amenos e deleitosos em que as plantas, o ar, a situação,
tudo está numa harmonia perfeita: não há ali nada grandioso nem
sublime, mas há uma como simetria de cores, de sons,
de disposição em tudo quanto se vê e se sente, que não parece senão
que a paz, a saúde, o sossego do espírito e o repouso do coração
devem viver ali. As paixões más, os pensamentos mesquinhos,
os pesares e as vilezas da vida não podem senão fugir para longe.
Imagina-se por aqui o Éden que o primeiro homem habitou com a sua
inocência e com a virgindade do seu coração.
À esquerda do vale, e abrigado do norte pela montanha que ali se corta
quase a pique, está um maciço de verdura do mais belo viço e variedade.
A faia, o freixo, o àlamo entrelaçam os ramos amigos;
a madressilva, a musqueta penduram de um a outro suas grinaldas
e festões; a congosa, os fetos, a malva-rosa do valado
vestem alcatifam o chão. (...)
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Poetas da Nossa Terra


Quantas vezes, Amor, me tens ferido?


Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas vezes,Razão, me tens curado?
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido!

Tal, que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido:

Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!

Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;
É lei da natureza, é lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida.

Bocage

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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Viagens na Nossa Terra



MODA ALENTEJANA
(Para os cantadores de Montes Velhos)

A ribeira do Xacafre
Vai rasa dos meus cuidados:
No escuro das águas tristes,
Há laivos ensanguentados...

Ó meus olhos, ó meus olhos,
- Noite e dia - que estais vendo?
A ribeira do Xacafre,
Da minha alma discorrendo!

Na ribeira do Xacafre,
Uma voz suspira fundo:
A voz da minha saudade,
A despedir-se do mundo!

Aldeia de Montes Velhos,
Não posso querer-te mais:
És a luz do sol-nascente,
Abrindo, em flor, nos meus ais!

Aldeia de Montes Velhos
És sempre luz de Alvorada
És sempre rosa de altar
Da chama de uma queimada!

Eu hei-de florir na urze,
Arder no vento suão,
Lá, na Charneca das Naves,
- Mar alto da Solidão!
Beja
Terra de Mário Brandão