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sábado, 28 de dezembro de 2013

Poetas da Nossa Terra





ENTRE O LUAR E A FOLHAGEM

Entre o luar e a folhagem, 
Entre o sossego e o arvoredo,
Entre o ser noite e haver aragem
Passa um segredo.
Segue-o minha alma na passagem.

Ténue lembrança ou saudade,
Princípio ou fim do que não foi, 
Não tem lugar, não tem verdade,
Atrai e dói.
Segue-o meu ser em liberdade.

Vazio encanto ébrio de si,
Tristeza ou alegria o traz?
O que sou dele a quem sorri?
Nada é nem faz.
Só de segui-lo me perdi.

Cancioneiro

In “Fernando Pessoa – Antologia Poética

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Poetas da Nossa Terra




 SE PARTIRES




Se partires, não me abraces – a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.

Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces –

o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém – longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.
Se me abraçares, não partas.


Maria do Rosário Pedreira