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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Poetas da Nossa Terra






Se Partires

(Vale a pena a Leitura..)


Se partires, não me abraces – a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.


Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces –


o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém – longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.
Se me abraçares, não partas.

Maria do Rosário Pedreira

Poetas da Nossa Terra

Pequena Cantiga à Mulher




Onde uma tem
O cetim
A outra tem a rudeza

Onde uma tem
A cantiga
A outra tem a firmeza

Tomba o cabelo
Nos ombros

O suor pela
Barriga

Onde uma tem 
A riqueza
A outra tem
A fadiga

Tapa a nudez
Com as mãos

Procura o pão
Na gaveta

Onde uma tem
O vestígio
Tem a outra
A pele seca

Enquanto desliza
O fato
Pega a outra na 
Enxada

Enquanto dorme
Na cama
A outra arranja-lhe
A casa

Maria Teresa Horta

Poetas da Nossa Terra








Não tenhas medo do Amor

Não tenhas medo do amor. Pousa a tua mão
devagar sobre o peito da terra e sente respirar
no seu seio os nomes das coisas que ali estão a
crescer: o linho e genciana; as ervilhas-de-cheiro
e as campainhas azuis; a menta perfumada para
as infusões do verão e a teia de raízes de um
pequeno loureiro que se organiza como uma rede
de veias na confusão de um corpo.

A vida nunca foi só Inverno,
nunca foi só bruma e desamparo.

Se bem que chova ainda, não te importes: pousa a
tua mão devagar sobre o teu peito e ouve o clamor
da tempestade que faz ruir os muros: explode no
teu coração um amor-perfeito, será doce o seu
pólen na corola de um beijo, não tenhas medo,
hão-de pedir-to quando chegar a primavera.

Maria Rosário Pedreira


Parque dos Poetas - Oeiras


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PARQUE DOS POETAS EM OEIRAS




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