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quinta-feira, 25 de março de 2010

Poetas da Nossa Terra



PERDÃO


Aqui me tens, meu Deus, em confissão.
Não roubei. Não matei. Não caluni
ei.
Mas nem sempre segui a tua lei,
nem sempre fui a irmã do meu irmão.

Não recusei aos outros o meu pão.
Amor, algumas vezes, recusei.
Mas por tudo o que dei e o que não dei,
eu te peço, meu Deus, o teu perdão.

Perdão para os meus erros consientes
e para os meus pecados inocentes,
para o mal que já fiz e ainda fizer...

Perdão para esta culpa original,
para este longo e complicado mal:
o crime sem perdão de ser mulher.

Fernanda de Castro

segunda-feira, 22 de março de 2010

Poetas da Nossa Terra


JOSÉ RÉGIO


Surge Janeiro frio e pardacento
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assustam-se os fantoches em São Bento
e o decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e vilão.

Também faz o pequeno sacrifício
De trinta contos só! por seu ofício
Receber, a bem dele...e da nação.

Soneto (quase inédito), escrito em 1969 no dia
da reunião de antigos alunos.

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