DA SERPENTE
Provei o vinho de Cantanhede:
Que não bebem vinho tinto nem conhecem
o sabor das palavras mais amargas.
Há poetas fechados em gaiolas de oiro.
Portanto livres. Logo, felizes.
Há poetas eleitos.
Não se sabe por quem, é verdade,
mas são tão divinos como a chuva.
Tão finos como copos de cristal.
Tão reservados como os licores estrangeiros.
Tão confortáveis como o ar condicionado.
Há poetas que se amam a si mesmos.
Há poetas que escrevem de modo a não sujar os dedos.
Há poetas que nunca se misturam
para não se comprometerem com os homens.
Há poetas que comem o pão que o povo amassou.