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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Poetas da Nossa Terra




Um poema de Ana Luisa Amaral sobre o 25 de Abril, à memória de Miguel Portas(25-04-2012)
tão novo de morrer,
quase morrido
Tem vindo a ser matado
por sorrisos e cega obediência,
por sustos assustados,
ou simplesmente por não ser presente
e ter sido esquecido
na cave desta casa
Nela nasceu erguido
entre o mais desatado e o mais belo de ser:
tanques e cravos, e casos curiosos raso a mitos,
e sérios casos de paixão a sério,
e também carne e vida,
o que de mais importa neste mundo
Repousar é de morto, e ele terá morrido:
sem exéquias sequer,
só de mentira,
está o seu corpo muito lá em baixo,
como se fosse um peso que já não:
Nem mesmo incomodar
os números que voam, desatados,
os bárbaros que uivando sobrevoam
o telhado da casa
e nele pousam, cruéis e confortáveis,
repousam dos seus rumos de conquista
Tão novo de morrer,
morrido quase
Quem as exéquias suas?
Não há mural que o ressuscite aqui?
Ou chamamento novo que o congregue
de novo e em colisão
nestas janelas?
Dos que ao seu lado viveram lado a lado,
desses o susto bom de ele nascer,
e a desobediência ao erro e ao dobrado
Dos que depois nasceram:
a memória,
talvez da sua mão, ou mãe: memória,
o que de mais importa neste mundo
Que esses possam dizer que não,
que ainda vive,
que é novo de morrer e ainda vive,
e que o seu funeral: coisa sem rumo
Mesmo que chova hoje, como chove,
e as nuvens se perfilem junto aos uivos,
mesmo assim pressenti-lo
Teimar que é impossível
morrer assim tão novo
Saber
que isto não pode ser assim
Ana Luísa Amaral

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