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sábado, 2 de fevereiro de 2013

Poetas da Nossa Terra




NEM  SEMPRE


Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.

A cor das flores não é a mesma ao sol
de que quando uma nuvem passa,
ou quando entra a noite e as
flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem, vê que
são as mesmas flores.

Fernando Pessoa
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terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Poetas da Nossa Terra




Não adormeças - o vento ainda assobia no meu quarto







Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto
e a luz é fraca e treme e eu tenho medo
das sombras que desfilam pelas paredes como fantasmas
da casa e de tudo aquilo com que sonhes.

Não adormeças já. Diz-me outra vez do rio que palpitava
no coração da aldeia onde nasceste, da roupa que vinha
a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi
de quatro folhas; e das ervas úmidas e chás
com que em casa se cozinham perfumes que ainda hoje
te mordem os gestos e as palavras.

O meu corpo gela à míngua dos teus dedos, o sol vai
demorar-se a regressar. Há tempo para uma história
que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres,
serei tão leve que não hei de pesar-te nunca na memória,
como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono
se agora apenas me olhares de longe e adormeceres.

Maria do Rosário Pedreira
de A Casa e o Cheiro dos Livros