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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Poetas da Nossa Terra




 SE PARTIRES




Se partires, não me abraces – a falésia que se encosta
uma vez ao ombro do mar quer ser barco para sempre
e sonha com viagens na pele salgada das ondas.

Quando me abraças, pulsa nas minhas veias a convulsão
das marés e uma canção desprende-se da espiral dos búzios;
mas o meu sorriso tem o tamanho do medo de te perder,
porque o ar que respiras junto de mim é como um vento
a corrigir a rota do navio. Se partires, não me abraces –

o teu perfume preso à minha roupa é um lento veneno
nos dias sem ninguém – longe de ti, o corpo não faz
senão enumerar as próprias feridas (como a falésia conta
as embarcações perdidas nos gritos do mar); e o rosto
espia os espelhos à espera de que a dor desapareça.
Se me abraçares, não partas.


Maria do Rosário Pedreira

2 comentários:

Albertina Granja disse...

Estão aqui bem retratadas a despedida e sobretudo a dor de quem vê partir...!!!
É um belo poema...!!!
Tenha uma boa semana Andrade e um Feliz Natal...
Bj.
Albertina

© Piedade Araújo Sol (Pity) disse...

uma boa escolha, todos os poemas da Maria do Rosário Pedreira são bons!

:)