A CONCHA PERFEITA DAS TUAS MÃOS
murmuravas nas manhãs em que nascíamos
ávidos de nós
e éramos tão novos
e faltávamos às aulas
posso ter esquecido admito muita coisa
caminhos promessas lugares a cor
da saia que vestia no dia em que não voltei
muita coisa admito menos
a concha perfeita das tuas mãos sobre o meu peito
o cheiro das laranjeiras as cartas
em papel tão adolescente e azul
o esplendor de junho à mesa familiar
os espelhos garantindo-nos um lugar único na casa
posso ter esquecido admito muita coisa
menos os nossos corpos simultâneos
às portas do amor
no arco da minha pele que humidamente
se abria ao lume da tua língua
nessas manhãs em que jurámos
não morrer nunca
In “Dois Corpos Tombando na Água”
Editorial Caminho – 2007
Alice Vieira
2 comentários:
Quando se fala em Alice Vieira identificamo-la logo( pelo menos eu) com a sua obra infanto-juvenil.
E contudo ela tem uma obra vastíssima, privilegiando praticamente todos os tipos de escrita.
Como este lindo poema onde celebra o amor.
Abraço
Olinda
Meu amigo
Mais uma escolha perfeita, este poema de Alice Vieira é lindo mesmo.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Enviar um comentário