Não adormeças - o vento ainda assobia no meu quarto
Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto
e a luz é fraca e treme e eu tenho medo
das sombras que desfilam pelas paredes como fantasmas
da casa e de tudo aquilo com que sonhes.
Não adormeças já. Diz-me outra vez do rio que palpitava
no coração da aldeia onde nasceste, da roupa que vinha
a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi
de quatro folhas; e das ervas úmidas e chás
com que em casa se cozinham perfumes que ainda hoje
te mordem os gestos e as palavras.
O meu corpo gela à míngua dos teus dedos, o sol vai
demorar-se a regressar. Há tempo para uma história
que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres,
serei tão leve que não hei de pesar-te nunca na memória,
como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono
se agora apenas me olhares de longe e adormeceres.
Maria do Rosário Pedreira
de A Casa e o Cheiro dos Livros
4 comentários:
Meu querido amigo
Sempre escolhas muito boas e este poema é lindo, como todos que ela escreve.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
Um lindo e nostálgico Poema desta Poetisa de que tanto gosto.
Beijo.
isa.
Não obstante a nostalgia aqui revelada...., é um poema muito bonito....!!!!
Parabéns pela escolha
Não conhecia esta poêtisa, mas belos seus poêmas quanta sencibilidade nas suas palavras,
é caso para dizer...Precioso...
parabéns pela escolha: Célia.
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