Seguidores

quarta-feira, 27 de maio de 2009

ARY DOS SANTOS






Poeta Castrado, Não!




Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
--- é tão vulgar que nos cansa ---
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
--- a morte é branda e letal ---
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
--- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
--- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

José Carlos Ary dos Santos

##

3 comentários:

Anónimo disse...

Este deve ser o poema de Ary de q.
mais gosto.Engraçado:ñ gosto da maneira dele dizer Poesia.
Mas ainda ñ ouvi ninguém como ele
recitar com força,com garra,estas palavras.Nem mesmo a Odete Santos.
Beijo.
isa.

Vivian disse...

"Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro
o reverso:"

os poetas tem com eles
uma maneira gostosa
de falar da vida louca
em que todos estamos
inseridos.

adoro...

bjs brasileiros!

45645646546565 disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.