Canção duma sombra
Ah, se não fosse a névoa da manhã
E a velhinha janela, onde me vou
Debruçar, para ouvir a voz das cousas,
Eu não era o que sou.
Se não fosse esta fonte, que chorava,
E como nós cantava e que secou...
E este sol, que eu comungo, de joelhos,
Eu não era o que sou.
Ah, se não fosse este luar, que chama
Os espectros à vida, e se infiltrou,
Como fluido mágico, em meu ser,
Eu não era o que sou.
E se a estrela da tarde não brilhasse;
E se não fosse o vento, que embalou
Meu coração e as nuvens, nos seus braços,
Eu não era o que sou.
Ah, se não fosse a noite misteriosa
Que meus olhos de sombras povoou,
E de vozes sombrias meus ouvidos,
Eu não era o que sou.
Sem esta terra funda e fundo rio,
Que ergue as asas e sobe, em claro voo;
Sem estes ermos montes e arvoredos,
Eu não era o que sou.
|
Teixeira de Pascoaes
******************************************
4 comentários:
Um belo e sentido Poema de Pascoaes.
Bom fim de semana.
Beijo.
isa.
adorei o poema bela escolha
beijos
"EU NÃO ERA O QUE SOU"
Um bonito poema de T. de Pascoaes..
Tenha um bom domingo Andrade
Diferente mas belo!
o outono da vida...
Ah! eu não era o que sou!
a névoa da manhã se escondendo
na sombra!!!
Um bom fim de semana Andrade;
Célia
Enviar um comentário