O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre
os livros.
O verão deixa-me os olhos mais lentos sobre
os livros. . As tardes vão-se repetindo no terraço, onde as palavras são pequenos lugares de memória. Estou divorciada dos outros pelo tempo destas entrelinhas - longe de casa, tenho sonhos que não conto a ninguém, viro devagar a primeira página: em fevereiro, eles ainda faziam amor à sexta-feira. De manhã, ela torrava pão e espremia laranjas numa cozinha fria. Havia mais toalhas para lavar ao domingo, cabelos curtos colados teimosamente ao espelho. Às vezes, chovia e ambos liam o jornal, dentro do carro, antes de se despedirem. As vezes, repartiam sofregamente a infância, postais antigos, o silêncio - nada aconteceu entretanto. Regresso, pois, à primeira linha, à verdade que remexe entre as minhas mãos. Talvez os olhos estivessem apenas desatentos sobre o livro; talvez as histórias se repitam mesmo, como as tardes passadas no terraço, longe de casa. Aqui tenho sonhos que não conto a ninguém. Maria do Rosário Pedreira de A Casa e o Cheiro dos Livros |
3 comentários:
Belo poema!
Sigo o blogue desta poetisa 'Horas Extraordinárias', em que ela fala das suas leituras e dos livros que edita.
Abraço.
Olinda
Os poemas desta poetisa são verdadeiramente belos e todos os que dela leio revelam uma componente muito forte e acentuada no que se refere às suas leituras, às histórias que ele lê e à forma como as interpreta...!!!
Gosto Muito...!!!!
E deste poema, particularmente, porque põe a tónica "nos sonhos que não conto a ninguém"......
Tenha um bom fim de semana Andrade...
Albertina
Meu querido amigo
Mais uma grande poetisa, eu adoro Maria do Rosário Pedreira, ainda comprei o livro dela Poesias Reunidas.
Um beijinho com carinho
Sonhadora
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