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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Poetas da Nossa Terra





QUANDO SE VÊ DO MAL O QUE SE NÃO VIA DANTES

Se como haveis tardado, desenganos,
Vindes hoje de novo apercebidos,
A troco de vos ver tão prevenidos,
Dou-vos por bem tardados tantos anos.

Tardastes; e entretanto estes tiranos
Casos de Amor roubaram-me os sentidos.
Se alcançá-los quereis, bem que são idos,
Buscai-os pelo rastro dos meus danos.

Oh, segui-os, prendei-os, porque logo
Teme que foge, quem procura, alcança,
Pois é peso o temor, o gosto é vento.

E para quando os alcanceis vos rogo,
Não que façais me tornem a esperança,
Mas que sequer me deixem o escarmento.



Obras Métricas

In “Breve Antologia Poética do Período Barroco”

domingo, 15 de dezembro de 2013

Poetas da Nossa Terra



UNS


Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.

Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia, 
Esta é a hora, este o momento, isto 
É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe 
O dia, porque és ele.


Odes de Ricardo Reis

In “Fernando Pessoa – Antologia Poética”