Seguidores

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Poetas da Nossa Terra






Ofereço-te palavras

Se terminar este poema, partirás. Depois da

mordedura vã do meu silêncio e das pedras
que te atirei ao coração, a poesia é a última
coincidência que nos une. Enquanto escrevo
este poema, a mesma neblina que impede a
memória límpida dos sonhos e confunde os
navios ao retalharem um mar desconhecido



está dentro dos meus olhos – porque é difícil

olhar para ti neste preciso instante sabendo que

não estarias aqui se eu não escrevesse. E eu, que



continuo a amar-te em surdina com essa inércia

sóbria das montanhas, ofereço-te palavras, e não

beijos, porque o poema é o único refúgio onde

podemos repetir o lume dos antigos encontros.



Mas agora pedes-me que pare, que fique por aqui,

que apenas escreva até ao fim mais esta página

(que, como as outras, será somente tua – esse



beijo que já não desejas dos meus lábios). E eu, que

aprendi tudo sobre as despedidas porque a saudade

nos faz adultos para sempre, sei que te perderei



em qualquer caso: se terminar o poema, partirás;

e, no entanto, se o interromper, desvanecer-se-á

a última coincidência que nos une.





Maria do Rosário Pedreira