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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Poetas da Nossa Terra





PELO INVERSO

Começar pelo fim,
arremeter pelo inverso,
iniciar de noite o dia,
penetrar-te o corpo pelo seu avesso,
desdobrar-te a pele,
correr os dedos por ti
em segundos de inanição
parda
a fazer de conta que não sinto,
não estou cá,
não sou eu,
este é apenas o inverso de mim,
a minha sombra
colorida apenas
da fraca luz que acho
no teu regaço.
É neste rigor
de espelhos
que me revejo.
Um inverso de alma,
uma espécie
de mim
ao contrário.

In “Geografias Dispersas”
Editora Edita-Me

Alexandra Malheiro

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Poetas da Nossa Terra




IGNOTO DEO

Desisti de saber qual é o Teu nome,
Se tens ou não tens nome que Te demos,
Ou que rosto é que toma, se algum tome,
Teu sopro tão além de quanto vemos.

Desisti de Te amar, por mais que a fome
Do Teu amor nos seja o mais que temos,
E empenhei-me em domar, nem que os não dome,
Meus, por Ti, passionais e vãos extremos.

Chamar-Te amante ou pai... grotesco engano
Que por demais tresanda a gosto humano!
Grotesco engano o dar-te forma! E enfim,

Desisti de Te achar no quer que seja,
De Te dar nome, rosto, culto, ou igreja...
– Tu é que não desistirás de mim!


Biografia – 1929

In “Ler Por Gosto”
Areal Editores

José Régio