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quinta-feira, 14 de março de 2013

Poetas da Nossa Terra




       Passo às Vezes na cama um dia inteiro



De papo para o ar, como um madraço ...
Fumando qual filósofo ou palhaço,
 Sem mulher... sem cuidados... sem dinheiro!
É de manhã então que me é fagueiro
Ouvir trinar no cristalino espaço
Um pregão mais macio que um regaço,
Que se esvai a carpir... como um boieiro...
De manhã é que passa a leiteirinha,
Com seu pregão chilrado de andorinha,
Passam varinas de gargantas sãs...
E ao escutar tais cantantes semifusas, 

Eu creio que oiço ao longe as frescas Musas,
  A vender uvas e à pregoar maçãs.


 António Gomes Leal (1848-1921
Editado por: nicoladavid

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domingo, 10 de março de 2013

Poetas da Nossa Terra




Vaidade, Tudo Vaidade! 


 Vaidade, meu amor, tudo vaidade!
Ouve: quando eu, um dia, for alguem,
Tuas amigas ter-te-ão amizade,
(Se isso é amizade) mais do que, hoje, têm.

Vaidade é o luxo, a gloria, a caridade,
Tudo vaidade! E, se pensares bem,
Verás, perdoa-me esta crueldade,
Que é uma vaidade o amor de tua mãe...

Vaidade! Um dia, foi-se-me a Fortuna
E eu vi-me só no mar com minha escuna,
E ninguem me valeu na tempestade!

Hoje, já voltam com seu ar composto,
Mas eu, ve lá! eu volto-lhes o rosto...
E isto em mim não será uma vaidade? 


António Nobre, in 'Só' Tema(s): Vaidade 

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