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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Poetas da Nossa Terra






  O Alentejo

Um céu abafadiço, um ar de ausência
esperando nuvens imóveis no céu baixo.

A terra, já das ceifas recolhida,
alonga-se manchada a flores tardias,

roxas, vermelhas, amarelas, brancas,
como penugem de esquecida Primavera.

Por entre os campos, os cordões rugosos
dos caminhos para toda a parte,

menos para os campos, que pacientemente evitam.
Na linha do horizonte próxima ou distante

conforme as ténues cristas da planura imensa,
um claror de céu, um tufo de arvoredo,
alternadamente se tocam e se afastam.

De súbito, num alto que a planície esconde,
as casas surgem brancas e compactas.

Como surgem, mergulham
na sombra poeirenta de azinhagas em ruínas.

Ainda se demora uma torre antiga,
escura, com ameias e janelas novas,
caiadas.

Um rio se advinha. Mas, de ao pé da ponte.
de novo apenas o ondular da terra,
um crespo recordar só de searas idas.
De relance   -  Jorge de Sena
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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Poetas da Nossa Terra











Contra ti se ergue a prudência dos inteligentes e o arrojo dos patetas
A indecisão dos complicados e o primarismo
Daqueles que confundem revolução com desforra.

De poster em poster a tua imagem paira na sociedade de consumo
Como o Cristo em sangue paira no alheamento ordenado das igrejas

Porém
Em frente do teu rosto
Medita o adolescente à noite no seu quarto
Quando procura emergir de um mundo que apodrece. 

 de  Sophia de Mello Breyner Andresen
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