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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Poetas da Nossa Terra




É sempre possível


É sempre possível reinventar uma história
para nós próprios,
um caminho desobediente, um grito de ontem,
um delírio figurando um cântico.

A nossa condição de passageiros
é a exacta norma do sonho,
o devaneio fantasmagórico dum réptil
embasbacado ao sol, inocente das noções de tempo,
passado e futuro, a história
que podemos ler nos olhos dos outros,
ou nas infinitas divagações do vento.

Fantasiemos, pois, um caminho tardo e lesto
de imaginárias flores num deserto
para a nossa sede sem recurso,
a não ser a possível ciência de inventar
outro azul para os olhos dos vindouros
nossos filhos.

 Vieira Calado
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domingo, 21 de outubro de 2012

Poetas da Nossa Terra





«Uma perda impossível de suportar»
 é assim que Francisco José Viegas 
secretário de Estado da Cultura, 
fala na morte de Manuel António Pina,
 jornalista, poeta, colunista, e Prémio Camões 2011.

 O MEDO

  Ninguém me roubará algumas coisas,
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.

É a sua morte que eu vivo eternamente

quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.

Serei capaz

de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?


Manuel António Pina, in "Nenhum Sítio"

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