Seguidores

sábado, 8 de outubro de 2011

Poetas da Nossa Terra


estou escondido na cor amarga do fim da tarde.

estou escondido na cor amarga do
fim da tarde. sou castanho e verde no
campo onde um pássaro
caiu. sinto a terra e orgulho
por ter enlouquecido. produzo o corpo
por dentro e sou igual ao que
vejo. suspiro e levanto vento nas
folhas e frio e eco. peço às nuvens
para crescer. passe o sol por cima
dos meus olhos no momento em que o
outono segue à roda do meu tronco e, assim
que me sinta queimado, leve-me o
sol as cores e reste apenas o odor
intenso e o suave jeito dos ninhos ao
relento


valter hugo mãe de estou escondido na cor amarga do fim da tarde

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Poetas da Nossa Terra





DIETÉTICAS



Todos os dias alimento uma paz pequena:

não é dar-lhe asas de voar,

mas comida verdadeira

 

Poucos sabem das suas preferências:

às vezes um pouco disto,

outras um pouco daquilo,

e a minha paz pequena vai crescendo

e engordando

 

Alimentando-a do que realmente gosta,

de quando em quando receio dispepsia,

que fique obesa e larga:

e urgentes as dietas

 

Para já, a proporção peso-largura

está correcta, mas temo pelo resto:

uma ruptura stibita, ou fome

desmedida que a conduza sozinha

a procurar comida,

tornando-a viciada e vulnerável

 

Muito gorda, sem eficácia nenhuma,

prevejo-a, anti-bulímia,

mas em bruma,

tão sartreanamente

irrecuperável

 
ANA LUÍSA AMARAL, Às Vezes o Paraíso,