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sábado, 30 de julho de 2011

Poetas da Nossa Terra






 (e)Ternamente

Se te amar é pecado
Eu quero ser pecador
Em cada beijo trocado
Ou cada gesto de amor. 


Pecar e ser amado
Nessa mesma proporção
Em que sendo o teu pecado
És a minha perdição.


E, ao amar-te, pecadora,
Coisa tão contra-natura,
Sonho ver-te sonhadora
Na fogueira da ternura.


O pecado original
Seria só converter
O nosso amor virtual
Numa noite de prazer.


Para um amor querubino
Mil noites seriam pouco.
Tenho escrito no destino:
Para sempre ou ficar louco.



Luis Eusébio 

terça-feira, 26 de julho de 2011

Poetas da Nossa Terra






Cesário Verde


De tarde

Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.

Cesário Verde