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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Poetas da Nossa Terra



Se Me Deixares, Eu Digo


  Se me deixares, eu digo
O contrario a toda a gente;
E, n'este mundo de enganos,
Falla verdade quem mente. 


Tu dizes que a minha boca
Já não acorda desejos,
Já não aquece outra boca,
Já não merece os teus beijos; 


Mas, tem cuidado commigo,
Não procures ser ausente:
- Se me deixares, eu digo
O contrario a toda a gente. 



Escrita da época                                       António Botto, in 'Canções'

domingo, 10 de abril de 2011

Poetas da Nossa Terra




Sou de vidro 


Meus amigos sou de vidro
Sou de vidro escurecido
Encubro a luz que me habita
Não por ser feia ou bonita
Mas por ter assim nascido
Sou de vidro escurecido
Mas por ter assim nascido
Não me atinjam não me toquem
Meus amigos sou de vidro

Sou de vidro escurecido
Tenho fumo por vestido
E um cinto de escuridão
Mas trago a transparência
Envolvida no que digo
Meus amigos sou de vidro
Por isso não me maltratem
Não me quebrem não me partam
Sou de vidro escurecido

Tenho fumo por vestido
Mas por assim ter nascido
Não por ser feia ou bonita
Envolvida no que digo
Encubro a luz que me habita 

Lidia Jorge