Seguidores

sábado, 17 de julho de 2010

Poetas da Nossa Terra


Florbela Espanca


Ser Poeta



Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim ...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente ...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!


»»»»»»»»»»««««««««««

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Poetas da Nossa Terra

DESPERTA-ME DE NOITE



Desperta-me de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
o sono em que me deito

É rede a tua língua
em sua teia
é vício as palavras


com que falas

A trégua
a entrega
o disfarce


E lembras os meus ombros
docemente
na dobra do lençol que desfazes


Desperta-me de noite
com o teu corpo
tiras-me do sono
onde resvalo


E eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
e tu dentro de mim
vai descobrindo vales.

Maria Teresa Horta

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Poetas da Nossa Terra

poema


Faz-se luz pelo processo de eliminação de sombras
Ora as sombras existem as sombras têm exaustiva vida própria não dum e doutro lado da luz mas do próprio seio dela intensamente amantes loucamente amadas e espalham pelo chão braços de luz cinzenta que se introduzem pelo bico nos olhos do homem
Por outro lado a sombra dita a luz não ilumina realmente os objectos os objectos vivem às escuras numa perpétua aurora surrealista com a qual não podemos contactar senão como amantes de olhos fechados e lâmpadas nos dedos e na boca


Mário Cesariny