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sábado, 19 de junho de 2010

Poetas da Nossa Terra





Porque


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia Mello Breyner
“No Tempo Dividido e Mar Novo”,

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Poetas da Nossa Terra



Patrícia Taz





NÃO SOBROU NADA




Sob a mesa, migalhas de pão Sobre o chão.
Sobre a mesa, a toalha de uma mesa posta
Para um almoço já comido,
Manchada pelo vinho servido
Ainda há pouco.

Pouco ou nada resta.
Não sobrou nada.
Nem pão, nem tu, nem eu nem vinho.

Está tudo seco, tudo hirto, comezinho.
Sobre ti eu nada digo.
Sob pena de derramar o vinho bebido
Em lágrimas de solidão.
Bate a rebate o sino e
Bate também meu coração.
Tudo ou quase tudo ali ficou.
Não faltou nada.
Nem pão, nem vinho, nem tu, nem eu.
O caminho, esse, é que se perdeu.
Não sobrou nada.
Nem tu, nem eu, nem pão nem nada.



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