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sábado, 27 de fevereiro de 2010

Viagens na Nossa Terra


Castelo Do Bode

Dórdio de Guimarães

O tempo pasmou e parou em Castelo do Bode. No que outrora foi um vale

ameno das cercanias de Tomar, corre hoje o Zêzere contrariado
do seu

fluxo original espraiando-se em uma albufeira a que a
barragem dá um

sentido que serve o homem e não ofende.
A natureza primitiva nisto

alterada adaptou-se facilmente sem
amuos e fundou uma nova paisagem

e um novo passado,
que a muito custo percebemos artificial. Os valores

imutáveis de sempre permanecem e a água que aqui
discorre não deixa

de ser a água imorredoira e os pinhais e
eucaliptais que a bordam não

deixam de suspirar a sua firme eternidade.
A intervenção do homem em

nada afectou a vontade de Deus,
antes emprestou-lhe um gesto mais,

restaurou-lhe de tom
mais vivo um pormenor. (...)

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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Viagens na Nossa Terra



MARIA LISBOA

David Mourão-Ferreira

É varina, usa chinela,
tem movimentos de gata;
na canastra, a caravela,
no coração, a fragata.

Em vez de corvos no chaile,
gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
baila no baile com o mar.

É de conchas o vestido,
tem algas na cabeleira,
e nas velas o latido
do motor duma traineira.

Vende sonho e maresia,
tempestades apregoa.
Seu nome próprio: Maria;
seu apelido: Lisboa.

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