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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Viagens na Nossa Terra

T E J O
(Foto da Net)


Luís de Camões

(ou Francisco Rodrigues Lobo)

Famoso Tejo meu quão semelhante
te vejo e vi me vês agora e viste
turvo te vejo a ti tu a mim triste
claro te vi eu já tu a mim contente!

A ti foi-te trocando a grossa enchente
a quem teu largo campo não resiste
a mim trocou-me a vida em que consiste
meu viver contente ou descontente.

Já que somos no mal participantes
sejamo-lo no bem ah! quem me dera
que fôssemos em tudo semelhantes!

Lá virão então a fresca Primavera
tu tornarás a ser quem eras dantes
eu não sei se serei quem dantes era.

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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Viagens na Nossa Terra


ESTREMADURA





Estre

ma

dura



Cesário Verde

Meu Amigo (...) Talvez tu não conheças a Estremadura. Todo este bocado de terra,

quase uma península, que fica entre o Atlântico e o Tejo, é magnifico em

irregularidades montanhosas, em diversidade de culturas. Montes tão agrestes

mais cultivados não há! Como me deu saúde, cor, peito, ombros largos, andar um

dia inteiro na carreta dum almocreve que dorme, enquanto as mulas puxam


pessimamente para fora, graciosas e rijas, de ferro, com as grandes orelhas,
e as

enormes coelheiras brancas, cheias de serradura, no pescoço!
Como me deu

alegria serena e fecunda, e uma larga compreensão deste povo
forte, pacífico e

incansável, vir na falua, à bolina, carregada de cevada para a
Companhia de

Carruagens Lisbonenses, enquanto o arrais segurava a escota e a
tripulação comia

a caldeirada, em roda, com colheres de pau!
Além disso, pelo país dentro, este

ano a fruta abundava formidavelmente,
esperdiçava-se até. As macieiras,

carregadas, pousavam a extremidade dos ramos
no chão, e, na copa, o dorso

redondo, lembravam enormes lagostas verdes
de inumeráveis pernas em meio

dos vinhedos que se sucedem contínuos.
As searas de trigo, o que eu vira até

então, umas mais escuras, outras mais claras,
por causa das sementeiras que se

fazem umas mais cedo que outras, no tom
divergem muito das vinhas. Nestas,

léguas e léguas, o verde é igual, monótono,
fatigante, porque a parra rebenta toda

ao mesmo tempo.
Tudo vasto, grandioso, brutal! (...).)