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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Viagens na Nossa Terra


ESTREMADURA





Estre

ma

dura



Cesário Verde

Meu Amigo (...) Talvez tu não conheças a Estremadura. Todo este bocado de terra,

quase uma península, que fica entre o Atlântico e o Tejo, é magnifico em

irregularidades montanhosas, em diversidade de culturas. Montes tão agrestes

mais cultivados não há! Como me deu saúde, cor, peito, ombros largos, andar um

dia inteiro na carreta dum almocreve que dorme, enquanto as mulas puxam


pessimamente para fora, graciosas e rijas, de ferro, com as grandes orelhas,
e as

enormes coelheiras brancas, cheias de serradura, no pescoço!
Como me deu

alegria serena e fecunda, e uma larga compreensão deste povo
forte, pacífico e

incansável, vir na falua, à bolina, carregada de cevada para a
Companhia de

Carruagens Lisbonenses, enquanto o arrais segurava a escota e a
tripulação comia

a caldeirada, em roda, com colheres de pau!
Além disso, pelo país dentro, este

ano a fruta abundava formidavelmente,
esperdiçava-se até. As macieiras,

carregadas, pousavam a extremidade dos ramos
no chão, e, na copa, o dorso

redondo, lembravam enormes lagostas verdes
de inumeráveis pernas em meio

dos vinhedos que se sucedem contínuos.
As searas de trigo, o que eu vira até

então, umas mais escuras, outras mais claras,
por causa das sementeiras que se

fazem umas mais cedo que outras, no tom
divergem muito das vinhas. Nestas,

léguas e léguas, o verde é igual, monótono,
fatigante, porque a parra rebenta toda

ao mesmo tempo.
Tudo vasto, grandioso, brutal! (...).)

1 comentário:

Maria Ribeiro disse...

Um pouco de Surrealismo não faz mal a ninguém... antes pelo contrário! Adorei essa Imagem das maçãs a lembrar lagostas, Andradarte!Que cheirinho! Como o arroz de línguas de bacalhau da amiga Luísa...
Abraço de
Lusibero