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sábado, 5 de dezembro de 2009

Viagens na Nossa Terra

Nazaré - O SÍTIO


De:
Raúl Brandão

O SÍTIO

Antes de me ir embora vou lá acima ao Sítio.
É uma aldeia branca e deserta, com o templo, a capela
e o penedo onde se deu o milagre. Do alto deste grande
morro descobre-se de aeroplano um largo panorama - o mar
infinito, a ampla baía formada pelos montes, a branca
Nazaré ao pé da areia, a toalha líquida do riozinho que se
espraia e detém ao chegar à costa, e do lado da terra os
eternos pinheirais donde emerge o cone mais agudo de
S. Bento, com a ermida e a guarida do vigia. Percorro as ruas
e a praça. O silêncio de uma povoação abandonada.
Só encontro o padre, duas mulheres e uma criança.
Os homens foram todos (mais de trezentos) para a
longíncua pesca do bacalhau, que dura de Maio até
Dezembro. Durante essa longa ausência, a mulher não
muda de roupa nem de vestido e nunca mais se deita na
cama onde dormia com o homem, que lhe leva a enxerga
para bordo; fica no chão com os filhos sobre esteiras. (...)

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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Viagens na Nossa Terra


Nazaré



De: RAUL BRANDÃO

Do Valado à Nazaré são seis quilómetros, quase sempre através do
monótono pinheiral de El-Rei. É um majestoso templo que não
acaba e onde a solidão se torna palpável entre os troncos cerrados
e sob as copas espessas. Por fim, o caminho desce, passando
a pederneira, e avista-se lá em baixo a branca Nazaré
e o mar apertado num vasto semicírculo de montes verdes,
que mergulham no azul os alicerces. Ao norte,
o panorama acaba de repente num paredão temeroso,
que entra direito pelas águas e entaipa o céu.
É um morro avermelhado e riscado, com vegetação pegajosa de urzes
e de cardos e um penedo destacado na ponta - o bico do Guilhim.
Lá em cima, as paredes brancas duma aldeia árabe
entre as sebes de cactos hostis - o Sítio. Pedaços de rocha
salientes ameaçam desabar a toda a hora.....

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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Viagens na Nossa Terra


Beira Baixa




















De :
António Salvado

BEIRA BAIXA


Onde as searas cruzam o granito e a voz do longe é feita de suor.
A suave beleza solitária das oliveiras raras numa encosta.
A estranha consolação das giestas tão floridas em campos desolados.
E o verde esperança filho da sem esperança.
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