Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.
Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:
Da fome já não se fala
--- é tão vulgar que nos cansa ---
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?
Do frio não reza a história
--- a morte é branda e letal ---
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?
E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
--- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
--- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!
Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!
José Carlos Ary dos Santos
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3 comentários:
Este deve ser o poema de Ary de q.
mais gosto.Engraçado:ñ gosto da maneira dele dizer Poesia.
Mas ainda ñ ouvi ninguém como ele
recitar com força,com garra,estas palavras.Nem mesmo a Odete Santos.
Beijo.
isa.
"Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro
o reverso:"
os poetas tem com eles
uma maneira gostosa
de falar da vida louca
em que todos estamos
inseridos.
adoro...
bjs brasileiros!
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